sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O espelho

Uma das coisas que, para além da estupefacção, me causa maior mal- estar é quando alguém, que antes usava de toda a cordialidade e civilidade connosco, me passa a evitar e a ser ostensivamente esquivo, do tipo "a falar por favor". E isto, é importante referir, não é uma simples impressão,  mas um facto repetido e inequívoco. E, sobretudo, sem razão plausível, por muito  que me esforce ou tente descortinar. É que se ela existisse, por muito rebuscada que fosse, ainda tentaria esclarecer o assunto. Ainda tentaria, escudado numa explicação, ir directo ao assunto e, se possível, transformá-lo num simples mal-entendido. Mas, e se não não houver uma justificação? E se o absurdo só tem equivalente na pura arbitrariedade da situação criada? Então começas as dúvidas. O que é que a tal pessoa viu que eu não vi? O que é que ela imagina que sabe que eu não sei? Não seria melhor perguntar-lhe directamente? O rol de questões é teoricamente infinito. Só que, na prática, acaba ao fim de alguns minutos. Permanecendo então a ligeira inquietação de um mistério por resolver. Até que, um dia, alguém nos diz que lhe sucedeu exactamente o mesmo, com a mesma pessoa que me havia evitado. Ou, o mais verosímil, concluirei, como já faço, que este exercício só demonstra que a realidade é o que é: uma multiplicidade de causas e efeitos que se cruzam, sem razão e sem destino. E que, se o episódio relatado me perturba assim tanto, é porque certamente já fiz o mesmo, alguma vez, noutras circunstâncias, e nunca o soube. Até que alguém, que nunca imaginará como nem porquê, me veio devolver a memória...

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