sábado, 10 de setembro de 2016

Carreira de tiro - 3

Tanto quanto julgo saber, na Finlândia celebra-se o Dia do Fracasso. E nós, que andamos sempre a incensar os nórdicos, não poderíamos adoptar a ideia?

É que, em boa verdade, quando olho para o lado e para o écran, só vejo heróis. Há para todos os gostos e feitios: desportivos, sado-desportivos, excelsos pais de família (os mais bocejantes), os "que as comem todas", as "que os papam todos", mas só na vizinhança, os bem sucedidos "olhem para mim, sou tão empreendedor, sei lá", um ou outro vate que se acha a si mesmo "uma grande promessa" da arte lírica, os acácios robustamente talentosos, os cultores do engraçadismo a granel, as "boas" refasteladas no sofá, os revolucionários com barriguinha, os sem cheiro que só sabem contrabandear links, os "artistas", os meio artistas, os comparadores de pilas nas caixas de comentários, os afagadores de pilas nas caixas de comentários, também conhecidos por subscreverem ou fazerem suas as palavras de salazarenta concordância, os infalíveis educadores da populaça, os jesuítas que ninguém sabe o que pensam e é impossível perceber para onde olham, os "eruditos" que simulam piedosa humildade para acomodar egos gigantescos e sofridos, os partilhadores das fotos das férias inacreditavelmente felizes, e das idas a algum lado sem irem a lado nenhum... 

Enfim, saibamos amar o semelhante! Mas que diabo, não será ainda mais importante anunciar uma ruga escondida, uma hesitação comprometedora, uma nódoa exasperante no fato, o embaraço que nos faz corar, a escorregadela infame? Sim, tudo isso. Faço parte dos que acreditam que nos damos a conhecer mais pelo que deixamos escapar do que por aquilo que queremos, à força, mostrar. Mais pela condescendência dos que nos conhecem, do que pela indulgência dos que nos estendem um tapete para aí tropeçarmos.

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