domingo, 27 de novembro de 2016

VII

Meço todas as distâncias, 
para que não me assustem mais.

Conduzo a nave dos loucos 
por entre os escolhos de Deus,
até encontrar nas cinzas
o que esqueci no vasto fogo.

Caminho por entre as ruínas 
e as fúlgidas searas.

Abandono tudo
diante do tempo,
em troca de novas forças,
novos poderes,
novas exaltações sombrias, 
que só algumas palavras cantadas,
ou algumas noites felizes poderão iluminar.

Danço para que o corpo não seja 
absorvido pelo enigma.

Invoco uma ordem misteriosa e subtil,
para que possamos ser
os mensageiros ardentes que tocam no gelo.

Mas em certos dias,
perco-me no deserto,
pois é lá que deixo de procurar.

É lá que o horizonte infinito 
não me deixa ser escravo. 
Ou me é permitida uma última hesitação,
antes de o ser.

É  lá que a poeira não me deixa ser cego para ti.
É  lá que posso acreditar na santidade. 
Ou resistir a ela.
E lá que a nudez não tem remédio.
É lá que os traços das  pegadas duram 
só  até ao próximo sopro do vento.

É lá que nos toca,
muito ao de leve,
um pássaro transviado,
ou uma folha puxada pelo vento. 

É lá que a distância se mede
em ilusões desfeitas. 
E a força em preces escutadas.

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