segunda-feira, 30 de setembro de 2024

A aldeia global

Diabolizar as redes sociais é tão perigoso como fazer delas um substituto da sociabilidade comum. Há um meio termo saudável a considerar. Uma via personalizada a explorar. Sem perder de vista que não são elas que criam dependências. Que provocam disrupções comunicacionais. Afinal, o gregarismo, a intolerância, as bolhas de autosuficiênca, o tribalismo, não nasceram agora. E se foram as redes sociais um instrumento de eleição para e seu exponenciamento, também é verdade que só revelaram tendências nada positivas numa conjuntura favorável. Ainda assim, não raras vezes as redes são proxys da solidão. Dão espaço a um querido diário sem segredos. Uma privacidade invasiva. Uma construção identitária fraudulenta. Mas há mais. Criam uma ilusão de proximidade. O espaço parece ampliar-se, quando na verdade se reduz a uma câmara de ecos. Muito recentemente, decidi deixar de actualizar a página do FB, com excepção das partilhas que faço a partir daqui. Sem descurar as virtualidade das ferramentas em causa. Foi como regressar aos anos 90. Quando a proximidade física era o diapasão da nossa humanidade. Ou seja, procurar ou encontrar os outros para conviver. Sem ansiedade. Esperar que, quem quiser saber noticias sobre mim, ou vice versa, ou trocar umas ideias disto ou daquilo, faça o mesmo. Neste sentido, a correcção de rota funcionou como uma triagem. Acredito que a dimensão da sociabilidade voltou a incluir o esforço, o acaso, a gargalhada ou a comoção. Sem cortinas, nem mediadores, ou confessionários virtuais. O mundo parece ficar mais pequeno. Mas, na verdade, fica mais cheio. 

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