domingo, 29 de setembro de 2024
Os eunucos
Florescem por aí os artistas, vates e escritores a que chamaria, por comodidade de expressão, eunucos. Com as notórias excepções, é certo. Não se lhes conhece autonomia cívica, adrenalina reivindicativa, um gume crítico abrasivo, embora complexo, a paixão pelo risco, o culto do descomprometimento, a ousadia que só o talento alimenta e ampara. Ninguém lhes conhece uma linha de pensamento. Uma passagem em revista aos poderes instalados. Ninguém deu conta do seu arrojo. A sua arte falece no encontro com o mundo. O definhamento da estatura cívica acompanha a curvatura da coluna vertebral. A sua arte, ou as suas letras, nunca chegam a ser um instrumento privilegiado para se apagarem. E assim chegar realmente aos outros. Pois que se apoderaram da linguagem como um fim em si. Neles não há recuos, nem rupturas, nem espaços brancos. Cortejam a arte, mas nunca phodem com ela. Por isso são eunucos.
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