sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Blitz

A crispação tomou conta das conversas, dos media, dos blogues, das redes sociais. Assisto à construção de trincheiras ao longo das diferentes fracturas políticas e, sobretudo, culturais. E acontece o inevitavel: a intensidade da linguagem não é acompanhada pela luminosidade dos argumentos; o humor cede diante da sisudez do zelota; a partilha de entendimentos diversos sobre o bem comum transforma-se numa rixa verbal. Neste ponto, o expediente mais usado é a criação de categorias abstractas, odiosas qb, onde quem pensa de maneira diferente é metido à força. Massificando-se o que, por natureza, é singular. E facilitando-se a tarefa à propaganda e à obscuridade. Por exemplo, hoje li um comentário onde um adepto da esquerda radical se referia a "lacaios da direita", "traidores ao povo" e outras relíquias das pinturas murais do PREC. O caso dá que pensar. Não tarda muito, alguém vai escrever que sou um "lacaio do capital", ou expressão equivalente. A ironia não podia ser maior, nem mais cruel.

Sem comentários: